DESTRUIÇÃO
Tomou aquela caneca de cerveja como se fosse a
ultima e saiu pelas ruas procurando briga, um duelo iria lhe cair bem. Tinha
conseguido um emprego de tratorista temporário na prefeitura da cidade,
enquanto a ressaca não o derrubasse mais uma vez do alto da montanha de
promessas não compridas que o espelho quebrado do banheiro lhe devolvia na
forma de um rosto fracassado com olhar abatido de peixe morto.
Pela estrada fora caminhava sozinho, sem rumo, enquanto
fosse noite queria continuar perdido catando os cacos do coração que alguém
quebrou. Entrou em outro bar como se fosse o ultimo, só queria tomar a saideira
até o último centavo do seu salário, mas no fundo ele sabia que não era, no
outro dia subiria no trator como se fosse o ultimo e ganharia o dinheiro justo,
e pensaria naquela mulher como se fosse a última do mundo e bateria ponheta
como se fosse a última, quando a noite terminasse o mundo não pareceria justo,
sairia do prostibulo, isso era tudo.
Os amigos de bebedeira tentavam consola-lo:
__Você não é o primeiro, nem será o último.
Mas isso não ajudava muito.
Na verdade so queria esquecer ela nos braços de qualquer
puta,pois no dia que se declarou lhe levou petúnias pois não encontrou rosas em
lugar nenhum, levou um não que pareceu o último, tinha levado um fora e isso
não lhe pareceu justo.
Ela atropelou seu coração como um trator esmaga uma petúnia,
tinha ele como amigo, na verdade o ultimo e beijou o rosto de mais um defunto.
Ele pisou na embreagem do trator como se fosse um truque, o
motor roncou, o veículo escalou a parede do açude, mas tombou morro abaixo
aprontando o presunto, foi parar no hospital e o médico descobriu a cirrose e
tentou aconselhar :
__Se você quiser viver mais uns dias, pare de beber!
__Na verdade eu quero viver o último!
Virou o rosto pra parede ao lado do leito, encarou a
cerâmica branca e pensou nela de novo, principalmente naquele dia que fez ela
subir no trator para brincarem de pilotar, estava apaixonado e so chamava ela
por nomes de flores, naquela dia a tinha chamado de petúnia, dividiram uma
caneca de cerveja no final do dia, do alto da montanha de cascalho que tinha
empilhado com seu serviço, apreciando o por do sol.
Recebeu alta do hospital e chegou em casa todo quebrado.
Os parentes tentavam aliviar.
__Rapaz você nos deu um susto!
__ Mas isso acontece com todo mundo, disse o outro.
Ele olhou pro amor de mãe que do canto da sala respirava
fundo e amava cada filho como se fosse o último, iria passar uns dias na casa
da mãe, em quarto dos fundos, bateu a porta do quarto e foi ouvir um disco de
vinil como se fosse surdo, ele tinha ficado magoado, pois soube da traição como
se fosse o último.
Na rua vizinhos curiosos tentavam puxar assunto.
Quando topava com seu pai pelo corredor da casa o velho não
lhe dizia nada, mas o olhar lhe dizia muito. Alguém acabou lhe trazendo uma
parábola dos sentimentos que moravam em uma ilha e houve um incêndio, todos
fugiram e o tempo salvando todos ficou por ultimo, pois a moral da história era
que só o tempo era capaz de entender um grande amor, mas tempo era o que não
lhe restava muito, sorriu com cinismo, sozinho, depois que todos tinham ido
embora que sua mãe tinha organizado para ele se livrar do vício da bebida, a
reunião tinha acabado com aquele maldito texto, que não ajudou muito, na
verdade o tinha acertado no estomago como um pneu de trator desgovernado. Ele
entendia muito bem o amor, quem precisava entender era ela, mas ela não quis
entender e nem lhe deu tempo para explicar.
Saia de vez enquanto saia pelo portão do muro que cercava a
casa, atravessa a rua e sentava no banco da praça, lembrava dos beijos que
roubava ali, cada um com a intensidade de ser o último, lembrou dos porres que
terminavam ali, estendido no banco de cimento, levantou o olhar para o jardim
da praça e viu a petúnia, maldita petúnia, talvez tivesse sido melhor ter
escolhidos rosas, afinal elas eram únicas, agora era tarde demais, enfiou a mão
no bolso e só encontrou a carta de demissão da prefeitura, mais nada, estava
duro e a cirrose progredia a passos rápidos, deteriorando seu organismo como um
trator desgovernado colidindo contra uma parede velha.
Alguns criticavam:
__Tu vai e a cerveja fica!
Mas ele não dava mais ouvidos, bebia cada garrafa como se
fosse dose única, até que a morte veio ceifar mais uma vida, com prazer como se
não fosse a última, e a mãe enterrou o filho, chorando, como se fosse o último,
apesar de ter a casa cheia, mas cada um é único, em cima do caixão jogaram
petúnias, eram as únicas, o prefeito aproveitou o enterro do ex funcionário e
fez um discurso, o último. ELA, não ficou de luto.
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